O Coelho Branco de Alice
Desconfio que o Natal chegou cedo demais e que 2012 vai acabar antes do dia 31 de dezembro.
Está comum dizer que o ano voou; é a frase mais batida - depois da conversa sobre o calor de rachar - que a gente escuta o tempo todo no táxi, no elevador, na fila do banco e do supermercado, ou em qualquer conversa de bar. Nem vi esse ano passar... Voou! Voou mesmo? Claro que não. Todos os 365 dias estão aà como sempre estiveram, as mesmas 24 horas de cada santo dia, então por que essa sensação coletiva e meio desesperada de que não se viu o ano desfilar? Pode ser aquilo que a psicologia classifica como errônea percepção temporal contemporânea; nossa vida entrou num ritmo alucinante, sem intervalos comerciais, e tudo passou a depender do relógio. Há uma enxurrada de informações que não damos conta, compromissos demais, perdas de tempo em minutos incalculáveis na frente do computador, e do celular que agora não serve mais apenas para falar e ouvir.
Vamos tomar um chope? Claro! PeraÃ, vamos tirar uma foto! Junta aÃ! Pronto, vou postar já e marcar, que bacana! Pode falar, eu estou só respondendo o que fulano escreveu...
Postamos a foto em tempo real nas redes sociais e, entre um gole e outro, lemos e respondemos os comentários, o papo face a face (em português) vira o face a face (em inglês) da rede social apelidada da mesma forma. Não se pode perder nada, mas também não há tempo a perder com questões muito profundas. Próximo! - gritamos inconscientes. Próximo chope, próximo evento, próximo amor, próximo ano onde, acreditamos, vai ser tudo diferente, Vai mesmo? Quer apostar que 2013 vai voar também? Logo será a Copa de 2014, as OlimpÃadas de 2016 e você dirá/ouvirá: Nossa... Outro dia mesmo estava passando a escolha do paÃs-sede na tevê... Você não sente e, de repente, SENESCENTE.
O tempo corre mesmo ou nós corremos? E se nós corremos e não o tempo, fica a pergunta: corremos tanto para quê, afinal? Tire um tempo (!) e pense: será que o seu relógio está também com dois dias de atraso, como os personagens da obra famosÃssima de Lewis Carrol?
O Coelho Branco é, de longe, o meu personagem favorito na obra. Eu o adoro por sua tamanha riqueza num ser tão simples à primeira vista! Há muitas metáforas e leituras psicológicas sobre este personagem tão intrigante! E tem mais: o Coelho Branco é tão cheio de interpretações que já esteve presente no fime Matrix e na série Lost. (Alguém viu/lembra?) Lewis o construiu por volta de 1860 e, ainda hoje, espetacularmente, ele dá o que falar.
“Ai, os meus bigodes, é tarde, é tarde, é tarde até que arde..." - ele diz.
Tarde é aquele tempo que não volta mais e onde já não se é possÃvel realizar mais nada. Tarde é a casa dos arrependimentos e das lembranças. Que horas são para você?
CH
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