A Pele Que Ele Habita

A pele que ele habita é a minha. É na minha epiderme que ele brinca de se esconder. Na minha tela subcutânea passa o filme de nós dois, momentos divididos e somados de efeitos especiais que só ele consegue criar. Na minha temperatura somática, ele se delicia, se perde e acha o conforto que precisa. Aqueço para protegê-lo nos dias ruins, esfrio para sombrear a silhueta que compartilha comigo a maciez da derme. A pele que ele habita é a minha, misturando fluidos e sussurros, nossa percepção adivinha o que o outro quer e entrega na ereção dos folículos o desejo não dito em voz alta. Minha pele carrega o suor dele entranhado nas papilas dérmicas, digitais líquidas da nossa interseção física explosiva, trocamos calor por combustão e  irradiação, esquecidos das horas e dos outros. Há trilhas dele por todo o caminho percorrido, lava incandescente a criar novas figuras nas curvas do meu corpo. Há as estrelas que baixaram do céu para iluminar o quarto que acolhe a urgência do nosso prazer. A pele que ele habita é a minha, que se transforma em casa para abrigar seu cansaço do mundo. É na minha pele que ele veio morar desde que entrou na minha vida, mudou-se com todas as vontades imperiosas, a boca bonita e desenhada com perfeição a me dizer palavras que não pude encontrar sozinha por onde andei. É na minha pele que ele achou por bem viver, apanhar os raios de sol das manhãs que não estamos juntos, espreguiçar-se como um felino satisfeito com a caça, se transformar em dermopigmentação para gravar-se para sempre nos meus dias e noites.

Cori



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