O quanto vale o momento em que ele se despe pra você? Não me refiro àquele instante em que as roupas se tornam incômodas e desnecessárias - ainda que o momento seja uma delícia recheada de boas promessas... Quando ele se despe e se revela tal como é, os botões de defesa se desligam automaticamente e os laços afetivos se estreitam. É a hora da mistura de vocês mostrar que tem liga, que dá um caldo, e que pode servir de fundação para futuras construções emocionais a dois. 

Não é possível conhecer  o outro verdadeiramente sem que essa nudez aconteça, mesmo que saibamos que o tempo está constantemente moldando as vontades e os desejos. Não é o calendário que determina qual o melhor momento para mostrar a nossa identidade secreta, e o relógio é incapaz de dizer qual é a melhor hora para isso acontecer. Um strip tease de alma pode ter início depois de um beijo apaixonado, em um colo depois de um dia ruim, num silêncio, num olhar nos olhos...

Não se tira a roupa da alma para qualquer um, assim como também não se diz eu te amo para qualquer um. Bem longe de ser moralismo ou qualquer coisa que o valha, é uma questão de sobrevivência emocional; quem conseguiria aguentar o repuxo do efeito sanfona de amar e desamar como numa produção em série? Além de cansativo pacas, é doentio. Sou da opinião que promiscuidade sentimental será sempre um balde de água fria, pois é algo que particularmente me desliga, me desencanta na hora. Estar a cada semana, ou a cada mês, ligada visceralmente a alguém não me convence, dizer que ama a cada semana uma pessoa diferente também não, por mais que o conceito de fila rápida (blargh) esteja disseminado e em voga. É óbvio que não há quem mereça a pena perpétua de estacionar num relacionamento falido, de se contentar com migalhas; ninguém trará a nossa felicidade numa bandeja, essa busca é pessoal e intransferível, ninguém tem nada a ver com os tropeços e as alegrias do percurso.

Só não vale randomizar a si mesmo. Strip tease para um é roupa de gala para um amor durável.