Tanto Faz

Tanto Faz surge em duas ocasiões: uma é quando estamos relaxados, a cabeça fresca, o coração leve para receber o que a vida estiver a fim de proporcionar: praia ou piscina? Carne ou peixe? Lado direito ou esquerdo? Por cima ou por baixo? Luz acesa ou apagada? Assim ou assado? A resposta vem com um sorriso maroto - tanto faz... O que se segue é puro deleite, sem drama, sem atrito, sem danos.

A outra ocasião é bem diferente: é o ponto onde o GPS de duas pessoas se torna inconciliável, as tentativas já se esgotaram, alguém foi deixado falando sozinho por tempo demais, a emoção acabou... Podemos conversar? Quer falar sobre isso? Por que não tentamos de novo? E a resposta pode vir em palavras ou num silêncio glacial - tanto faz...

Aqui, tanto faz é um foda-se vestido socialmente, é um render-se para não mais guerrear, porém sem nunca significar um pedido de paz. Tanto faz, invariavelmente, é uma solitária, um castigo por ter sido desatento, pouco atencioso, relapso com algo que era importante para outro alguém.

Tanto faz - a gente usa essa dupla de palavras quando já esgotou as forças, quando a vontade de lutar por algo acabou, quando tudo o que poderia ser tentado foi.

Tanto faz, a gente diz e joga os ombros pro alto, entregando, a quem quer que seja, aquilo com o qual não conseguimos/queremos mais lidar.

Tanto faz é a etiqueta educada do não me importo mais, é jogar a toalha e sair do ringue porque não dá mais para prosseguir no embate. Ao ouvir essas duas palavras, a gente sabe que apareceu game over na tela, o fim chegou em letras enormes e não há mais espaço para negociações.

Tanto faz é o aviso de desistência que já ocorreu há tempos e só o outro não notou.

Quase sempre o tanto faz sai da boca de quem já tanto fez.



Corina Haaiga - Todos os Direitos Reservados

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