Cori

O título desse texto bem poderia ser "como uma única música me revirou do avesso e expôs as minhas entranhas emocionais como numa autópsia". Assim é Photograph do Ed Sheeran pra mim desde a primeira vez em que a ouvi... Adoraria saber pontuar as razões de maneira fácil e, principalmente, racional, mas a verdade é que jamais seria capaz de algo tão gigantesco e profundo.

Deixo a letra de Photograph falar por mim, de mim e para mim.

Gostaria de ter escrito cada frase dessa música, reproduzir cada vírgula e ponto, cada respirar entre as estrofes, fazer um autobiografia autorizada do que vai nos cantos abissais da minha alma. Mas Ed Sheeran fez isso à perfeição, provavelmente de maneira mais honesta e poética que eu.

Ainda vejo o sorriso dele na fotografia. Não a guardo no bolso do meu jeans rasgado, mas a tenho gravada nas retinas, debaixo da minha pele, dentro do meu peito... Fecho os olhos e consigo enxerga-lo perfeitamente diante de mim. E sinto com todas as forças, bem escondido da brutalidade do mundo, o amor que resiste e insiste em pulsar forte, um amor que aquece, cura, e me salva de mim mesma. O amor que emendou a minha alma quando ela se rasgou em um milhão de pedaços.

É encantadora e (muito!) apavorante a consciência de que algo possa ser maior que o tempo, maior que o meu tempo aqui. Algo que perdurará, ainda que eu não esteja mais presente fisicamente. E quando isso acontecer, assim mesmo, ele nunca estará sozinho ou abandonado... O tamanho desse amor o envolverá, o mantendo protegido, cuidado, sustentado. Talvez ele se lembre dos momentos em que demos as mãos e, unidos, nos sentimos invencíveis, mesmo com medo; dos instantes em que fomos eternizados ao dizer eu te amo de todo coração. 

Quando tudo fica difícil, é esse amor que me mantém de pé. É esse mesmo amor que sussurra para eu seguir adiante, para me colocar de pé todos os dias e não desistir de lutar.  Esse amor, como diz a canção, é a única coisa que levamos conosco quando morremos.

Um dia, talvez, ele leia o que eu escrevi aqui. E, quem sabe, Photograph se torne outro laço de doçura a nos unir para sempre.

Esse texto é pra você. 

Texto de Corina Haaiga - Todos os Direitos Reservados.

Falar de amor não é amar, não é querer ninguém. Falar de amor não é amar alguém. Assim é o refrão de uma música do Capital Inicial. Muitas vezes, encontramos alguém pelo caminho e as palavras ditas parecem se encaixar perfeitamente com o nosso modo de pensar. Logo surge um provocativo "e se..." a fazer rodopiar a mente e a soprar uma brisa quente e gostosa pra bulir com um coração já meio combalido de tanto blablablá. 

E se isso se prolongasse? E se saíssemos mais uma vez? 

E se eu deixasse rolar só para descobrir aonde isso vai dar? 

Asas às tentações e imaginações, o pulo às cegas sendo preparado e lá vamos nós outra vez apostar na roleta invisível da paixão. Quem pode dizer se dará certo desta vez ou não? Ninguém, mas como diz a música, falar de amor não é amar, não é querer alguém. Falar de amor não é o mesmo que amar alguém. E, como toda teoria, funciona que é uma beleza! 

Faça isso, não faça aquilo e pronto - como seria bom se fosse assim. Espera aí... Será que seria realmente bom se houvesse uma fórmula exata para o Amor? Algo que a gente pudesse decorar como na Matemática para aplicar nas equações complicadas, e assim já saber o que encontrar em cada curva de esquina e poder dizer, com toda certeza, que daria certo com qualquer bípede por aí.

Sei não...

Amar alguém é atravessar mares de areia escaldante a braçadas, é vir e ficar, mesmo que não haja festa e as luzes estroboscópicas estejam desligadas por um longo tempo. 

Já o ato de falar de amor é como teorizar sobre o universo - a gente sabe que existe, entende as camadas, mas vê apenas um milésimo de toda a beleza e, mesmo assim, já se arvora de ser o fodaraço no assunto. 

Catar uns cacos aqui e ali, viver algumas histórias, felizes ou não, ensina muita coisa; a gente fica mais esperto para não cair do cavalo novamente. E SÓ. Não nos dá diploma de nada, não nos torna PhD de coisa alguma. Ficamos, sim, um pouco mais cínicos após as decepções, mas isso não quer dizer que estamos aptos a palestrar ou criar um GPS de amar. 

Falo tanto de amor nas minhas crônicas e, ainda assim, me sinto patinando. Quebro a cara, ainda que tente acertar. E escrevo exatamente para poder juntar as peças desse quebra-cabeça infinito. 

Mas, falar de amor não é amar alguém. O amor só funciona pele na pele, e o coração no front.

Texto de Corina Haaiga - Todos os Direitos Reservados.

Nos anos 80, Leo Jaime perseguia a Fórmula do Amor. Ele dizia, quem se lembra da música pode até cantarolar, que tinha a pose exata para se fotografar, que aprendeu nos livros para um dia usar, além de um certo ar cruel de quem sabe o que quer... Será que há mesmo um modo de fazer nos relacionamentos, uma espécie imutável de códigos comportamentais que permitiria que o objeto do desejo caísse na rede para nunca mais sair?

Sempre rio quando penso naqueles ensinamentos ainda em voga sobre esperar X dias para telefonar, dizer Y frases sem parecer muito interessada, se comportar assim ou assado para conquistar aquele por quem andamos suspirando pelos cantos da casa... Leio esses conselhos quando pesquiso para as minhas crônicas, ouço-os com a silenciosa esperança de que não usem de tal expediente comigo.

Gosto de ligar quando sinto saudade, de cochichar no ouvido um desejo incontrolável, de olhar nos olhos, segurar na mão e me deixar levar pelo doce sabor do que está por vir. Não sigo a cartilha do Modo de Fazer no amor. E não acredito que, se nos guiarmos pelo passo a passo de uma receita de bolo nas nossas atitudes, vamos ser felizes para sempre com a nossa cara-metade.

Não ligue, não responda mensagens, não dê muita importância, não se mostre como é, não ria alto, não beba nada alcoólico no primeiro encontro que é para não falar o que não deve, não dê seu telefone, não chegue pontualmente, não fale de você, não o interrompa, e não seja você mesma. Não diga Eu Te amo, não escreva Eu Te Amo, aliás, nem pense em Eu Te Amo! Não se mostre preocupada se ele desaparecer por uma semana ou por um mês sem dar qualquer explicação sensata (afinal, quem é que merece/precisa de uma explicação sensata hoje em dia??) Crie outra pessoa, vista um personagem e depois pague o preço de tentar ser aceito por aquilo que você realmente é. Não atenda nas primeiras vezes que ele(a) telefonar, recuse todos os convites por duas semanas seguidas, mesmo que você esteja louco (a) para aceitar, nem sonhe em vestir aquela minissaia, pois seria um convite inapropriado para ir para a cama e isso só pode acontecer depois que ele já tiver te apresentado até mesmo à primeira professora dele!

Mais fácil aprender japonês em Braille, Djavan já deu a dica...

Esqueça o Modo de Fazer e foque no Modo de Não Fazer - Não seja babaca. O resto, deixa vir...

E faça ser bom e inesquecível.

Corina Haaiga - Todos os Direitos Reservados.

Alguma coisa acontece, geralmente de onde menos se espera, e te joga no chão, nocauteado. Pode ser um "não" quando um "sim" era o esperado, um rompimento afetivo doloroso, um fracasso profissional devastador, uma decepção cortante...

Diante de um vasto desânimo, só resta perguntar: Eu mereço isso?  Sinceramente, eu não acho que revezes aconteçam por merecimento; já parou para pensar em quanta gente bacana leva paulada todos os dias? Ou em quanto babaca anda se dando bem por aí? Merecer não é o verbo certo e nem cabe aqui. Coisas assim acontecem todos os dias, o tempo todo, nas milhares de ruas que cruzam, cortam e atravessam as inúmeras localidades do mundo. E acontecem porque acontecem, não existe uma lógica.

De repente, podemos receber uma notícia que conseguirá apagar o  Sol ou, então, espalhará cores fluorescentes até nos detalhes. Não é sorte, não é Destino, não é loteria celestial, pois Deus não joga dados, já disse Einstein. É o viver, que jamais será feito apenas de pétalas de rosas, de macias penas de ganso, da fragrância doce do sucesso. Haverá pedras, algumas assustadoras, na sua estrada, na estrada do teu amigo e na estrada do teu inimigo também... Pedra - eufemismo para dor. E a mesma pedra que está no chão, noutro dia pode estar na sua mão, já pensou nisso? É... a gente sabe ferir também, esqueceu?

Nascer, no dicionário, tem alguns significados - vir ao mundo, ter origem, brotar, ter talento natural para algo, etc. Ao sair da barriga materna, ainda embebido em líquido amniótico, você chora sem saber que aquele momento se repetirá muitas vezes ao longo do caminho. Você verterá mais lágrimas do que poderá contabilizar e terá de renascer sozinho em muitas ocasiões. Talvez a diferença esteja em ter alguém para te dar as boas vindas quando você vier ao mundo a cada vez que isso se fizer necessário. Alguém que segure na sua mão e se emocione com a sua chegada.  

A vida, entre outras coisas, é uma professora que se diverte com a palmatória na mão. Quanto tempo você pretende ficar esticado no chão?

Renasça. Alguém espera por você.